Números 22:2-23:26
O Livro
2 Quando o rei Balaque de Moabe, filho de Zípor, soube o que tinham feito aos amorreus, 3 e verificou como eram numerosos, ele e o seu povo ficaram aterrorizados. 4 E foram consultar apressadamente os anciãos de Midiã. “Esta multidão vai tragar-nos tal como os bois comem a erva!”, exclamavam.
O rei Balaque, filho de Zípor, 5 enviou mensageiros a Balaão, filho de Beor, que vivia na sua terra natal, em Petor, perto do rio Eufrates, para lhe pedir que viesse ajudá-lo.
“É uma gente que chegou do Egito. Cobrem toda a face da terra e estabeleceram-se perto de mim. 6 O rei pede-te que venhas e que os amaldiçoes por nós, para que os vejamos desviarem-se da terra; porque sabemos bem como caem bênçãos sobre aqueles que tu abençoas, e também sabemos que aqueles que amaldiçoas são amaldiçoados.”
7 Os mensageiros eram alguns dos anciãos de Moabe e de Midiã; tinham ido ter com Balaão com dinheiro na mão, explicando-lhe o que Balaque pretendia.
8 “Passem aqui a noite”, disse Balaão. “Pela manhã vos direi aquilo que o Senhor me mandar responder-vos.” E assim fizeram.
9 Naquela noite Deus veio até Balaão e perguntou-lhe: “Quem são estes homens?”
10 “Vieram da parte do rei Balaque, de Moabe”, respondeu. 11 “O rei diz que um vasto bando de povo do Egito se chegou até junto da sua fronteira, e agora quer que eu vá e os amaldiçoe, na esperança de poder travar batalha com aquela gente e expulsá-los.”
12 “Tu não farás isso”, disse-lhe Deus. “Não irás amaldiçoá-los porque sou eu quem os abençoa.”
13 Na manhã seguinte Balaão disse-lhes: “Podem regressar. O Senhor não me deixa ir.”
14 Os delegados do rei Balaque retornaram e comunicaram o recado que traziam. 15 Mas Balaque tentou novamente. Desta vez mandou um número maior de embaixadores, todos de mais alta categoria social do que o primeiro grupo. 16 Vieram até Balaão com esta mensagem:
“O rei Balaque, filho de Zípor, pede-te que venhas. 17 Promete-te grandes honras e ainda todo o dinheiro que quiseres pedir-lhe. É só dizeres quanto queres! A questão é que venhas e amaldiçoes esta gente.”
18 Mas Balaão retorquiu-lhes: “Nem mesmo que me desse um palácio cheio de prata e ouro eu poderia alguma coisa contra o mandamento do Senhor, meu Deus. 19 Contudo, fiquem aqui esta noite, para que possa saber se o Senhor acrescentará alguma coisa àquilo que já me disse antes.”
20 Nessa noite, Deus falou a Balaão: “Levanta-te e vai com eles, mas tem cuidado em dizer unicamente o que eu te mandar.”
A jumenta de Balaão
21 Dessa forma, na manhã seguinte, albardou a sua jumenta e partiu com os chefes de Moab. 22 Mas Deus estava zangado com Balaão; por isso, mandou o anjo do Senhor para se pôr no seu caminho e matá-lo. Enquanto Balaão e os dois criados seguiam cavalgando pela estrada, 23 a jumenta de Balaão viu o anjo do Senhor em pé no caminho, com a espada desembainhada, e saiu pelo campo. Balaão bateu-lhe e trouxe-a de novo para o caminho.
24 Mas o anjo do Senhor pôs-se mais adiante num sítio onde se passava entre as paredes de duas vinhas. 25 Quando a jumenta o viu de novo ali procurou passar muito rente a um dos muros, apertando de tal maneira o pé de Balaão que ele tornou a bater-lhe.
26 Ora o anjo do Senhor foi pôr-se ainda mais à frente num lugar tão estreito que a jumenta ali não podia passar mesmo. 27 Por isso, baixou-se e ali ficou. Balaão ficou furioso e espancou-a com o bordão.
28 Então o Senhor fez com que a jumenta falasse e dissesse: “O que é que te fiz para que me espanques já por três vezes?”
29 “Porque tens estado a brincar comigo!” gritou-lhe Balaão. “Só queria ter aqui uma espada, que te matava já.”
30 Porém, a jumenta disse a Balaão: “Eu sou a tua jumenta, que tens montado sempre, até hoje. Alguma vez fiz isto contigo anteriormente?”, perguntou a jumenta.
“Não!”, admitiu ele.
31 Então o Senhor deixou que os olhos se lhe abrissem e viu o anjo do Senhor no meio do caminho com a espada desembainhada; logo se inclinou até ao chão perante ele.
32 “Porque é que por três vezes bateste na tua jumenta?”, perguntou-lhe o anjo do Senhor. “Eu vim aqui para te deter, porque o teu caminho é perverso diante de mim. 33 A jumenta por três vezes me viu e procurou desviar-se; se assim não tivesse sido, certamente te teria morto e ela teria sido poupada.”
34 Então Balaão confessou: “Pequei. Não me dei conta que estavas aí. Se não queres que vá, volto agora mesmo para casa.”
35 Mas o anjo do Senhor disse-lhe: “Não, vai então com esses homens, mas dirás apenas o que eu te disser.” Assim, Balaão continuou o caminho com os outros.
Balaque e Balaão
36 Quando o rei Balaque ouviu que Balaão vinha a caminho, deixou a capital e saiu a encontrar-se com ele junto ao rio Arnom na fronteira da sua terra. 37 “Porque demoraste tanto em vir?”, perguntou-lhe o rei. “Não acreditaste em mim quando te prometi grandes honrarias?”
38 Balaão respondeu-lhe: “Eu vim, sim, mas não tenho poder para dizer senão exclusivamente o que Deus me mandar proferir. Só isso falarei.”
39 Balaão acompanhou o rei até Quiriate-Huzote, 40 onde este sacrificou bois e cordeiros, tendo dado também animais para Balaão e os embaixadores sacrificarem, por sua vez. 41 Na manhã seguinte Balaque levou Balaão até ao cimo do monte Bamote-Baal, do qual se podia ver parte do povo de Israel espalhado lá em baixo.
A primeira profecia de Balaão
23 Balaão disse para o rei: “Levanta sete altares aqui e prepara sete novilhos e sete carneiros para serem sacrificados.” 2 Balaque fez como este lhe dissera e foi sacrificado em cada altar um novilho e um carneiro.
3 Então Balaão disse para o rei: “Fica aqui junto do holocausto e verei se o Senhor vem ao meu encontro. O que ele me disser, comunicar-to-ei.” Depois foi a um sítio mais elevado; 4 lá Deus encontrou-se com ele e Balaão disse-lhe: “Preparei sete altares e sacrifiquei um novilho e um carneiro em cada um.” 5 E o Senhor comunicou-lhe a mensagem que deveria transmitir a Balaque.
6 Quando Balaão regressou, o rei estava de pé ao lado dos holocaustos, com todos os altos conselheiros de Moabe.
7 Esta foi a mensagem que Balaão lhe trouxe:
“O rei Balaque, rei de Moabe, trouxe-me aqui
desde a terra de Aram[a],
desde as montanhas lá do oriente.
‘Vem’, disse, ‘amaldiçoa-me Jacob!’
8 Como poderei eu amaldiçoar o que Deus não amaldiçoou?
Como detestarei um povo que o Senhor não condena?
9 Estou a vê-lo do alto do monte,
observo-os do cimo da montanha.
Este povo é separado das outras gentes;
quer viver sem se misturar com outros,
com outras nações.
10 Quem contou os grãos de pó de Jacob
ou enumerou a quarta parte de Israel?
Se ao menos eu pudesse morrer tão feliz como morre um justo!
Se o meu fim pudesse ser como o deles!”
11 “Mas o que é que me fizeste?”, exclamou o rei Balaque. “Disse-te para amaldiçoares os meus inimigos e acabaste por abençoá-los!”
12 Mas Balaão replicou: “Posso eu falar seja o que for que o Senhor não me mande dizer?”
A segunda profecia de Balaão
13 Então Balaque tentou novamente: “Vem comigo a outro lugar; dali verás apenas uma parte de Israel: amaldiçoa ao menos só esses que vires!” 14 Então Balaque trouxe Balaão até aos campos de Zofim, subiu ao monte Pisga, levantou sete altares e ofereceu um novilho e um carneiro em cada um.
15 Balaão tornou a dizer ao rei: “Fica aqui, junto dos holocaustos, enquanto vou ali encontrar-me com o Senhor.”
16 E de novo o Senhor veio ter com Balaão e lhe disse o que devia proferir. 17 Por isso, regressou até onde estava o rei e os conselheiros moabitas, ao lado dos holocaustos.
“Que foi que te disse o Senhor?”, perguntou o rei ansioso.
18 E a sua resposta foi:
“Levanta-te, Balaque, e ouve.
Escuta-me tu, filho de Zípor.
19 Deus não é um homem para que possa mentir.
Ele não muda de intenções como fazem os seres humanos.
Alguma vez ele prometeu uma coisa
sem que tenha cumprido o que disse?
20 Ouve! Recebi ordem para os abençoar,
porque é Deus mesmo quem abençoa,
e não seria eu quem poderia alterar tal coisa!
21 Ele não vê desgraça em Jacob;
nem contemplará algum sofrimento em Israel.
O Senhor, o seu Deus, está com eles.
Ele é aclamado como seu Rei!
22 Deus o tirou do Egito.
Israel tem a força de um boi selvagem.
23 Não há maldição que possa ser lançada sobre Jacob.
Não há encantamento que consiga virar-se contra Israel.
Porque desde agora será dito de Jacob e de Israel:
‘Quantas maravilhas Deus fez por eles!’
24 Este povo levanta-se com o impulso de uma leoa.
Não descansarão enquanto não tiverem devorado a presa toda,
e enquanto não tiverem bebido todo o sangue!”
25 “Ao menos, já que não os amaldiçoas, não os abençoes!”, exclamou o rei.
26 Mas ele replicou-lhe: “Não te disse eu que havia de falar apenas o que o Senhor me dissesse?”
Footnotes
- 23.7 Aram. Mais tarde conhecida pelo nome grego Síria.
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