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Jacob e Esaú

19 Seguem-se os descendentes de Isaque, filho de Abraão.

20 Isaque tinha 40 anos quando casou com Rebeca, filha de Betuel, o arameu de Padan-Arã, e irmã de Labão.

21 Isaque orou insistentemente para que Rebeca lhe desse um filho, pois era estéril. O Senhor ouviu as suas orações e ela ficou grávida. 22 Dois bebés como que lutavam dentro dela. “Mas porque sou assim?” E pediu ao Senhor que a esclarecesse.

23 O Senhor disse-lhe: “Os filhos que tens no teu seio tornar-se-ão dois grandes povos rivais. Um deles será mais forte. E o mais velho terá de submeter-se ao mais novo.”

24 Quando se cumpriu o seu tempo teve gémeos. 25 O primeiro a nascer era ruivo e estava coberto de pelo no corpo todo. Então chamaram-lhe Esaú[a]. 26 O outro vinha agarrado ao calcanhar do irmão. Por isso, lhe puseram o nome de Jacob[b]. Tinha Isaque 60 anos quando lhe nasceram estes gémeos.

27 Entretanto, os meninos cresceram; Esaú fez-se um hábil caçador, enquanto Jacob tinha um feitio sossegado e preferia ficar em casa. 28 Isaque gostava muito de Esaú, porque a caça também era muito do seu gosto. Rebeca tinha uma predileção especial por Jacob.

29 Um dia, Jacob estava a preparar um guisado quando chegou Esaú, exausto de correr pelos campos à procura de caça. 30 “Deixa-me comer desse guisado apetitoso e vermelho que aí tens!” Foi por isso que lhe ficou a alcunha de Edom (vermelho). 31 “Está bem”, disse Jacob. “Mas em troca dás-me o teu direito de filho mais velho.” 32 “De acordo. Para que me há de servir isso se estou a desfalecer, quase a morrer!” 33 “Então jura-me diante de Deus que esse direito há de ser meu!” E Esaú jurou, vendendo assim o seu direito de filho primogénito ao irmão mais novo. 34 Jacob deu-lhe o guisado de lentilhas que estava a preparar e o acompanhamento. Esaú comeu e bebeu e foi-se embora, indiferente à perda dos seus direitos de filho mais velho.

Isaque e Abimeleque

26 Houve uma grande fome naquela terra, como tinha acontecido nos tempos de Abraão. Por isso, Isaque resolveu mudar-se para a cidade de Gerar, onde reinava Abimeleque, rei dos filisteus.

O Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: “Não desças ao Egito. Faz o que eu te disser e fica nesta terra. Assim, serei contigo e abençoar-te-ei. Hei de dar-te toda esta terra a ti e aos teus descendentes, tal como prometi a Abraão teu pai. Farei com que a tua descendência seja tão numerosa como as estrelas. Eu lhe darei todas estas terras e através dela serão abençoadas todas as nações da Terra. Faço isto porque Abraão obedeceu à minha voz, aos meus preceitos e às minhas leis.”

Assim, ficou Isaque em Gerar. E quando os homens dali lhe perguntavam quem era Rebeca, respondia: “É a minha irmã!” Porque tinha receio pela sua própria vida se dissesse que era sua mulher. Temia que o matassem por causa dela, pois era muito atraente.

Estava Isaque ali havia já um longo tempo, quando Abimeleque, rei dos filisteus, aproximando-se de uma janela do seu palácio, viu que Isaque brincava afetuosamente com Rebeca.

Então mandou chamar Isaque e disse-lhe: “Afinal ela é tua mulher! Porque é que disseste que era tua irmã?” Ele respondeu: “Porque tinha medo que me matassem para ficarem com ela!”

10 “Como é que foste capaz de nos tratar desta maneira? Podia muito bem ter acontecido que alguém tentasse violá-la, e todos nos teríamos tornado culpados de um grave delito por tua causa.” 11 Assim, Abimeleque mandou publicar um comunicado em que dizia: “Seja quem for que tocar neste homem ou na sua mulher morrerá.”

12 Nesse mesmo ano, a colheita de Isaque foi enorme: cem vezes o que tinha semeado. Isto porque o Senhor o abençoava. 13 E tornou-se um homem de grande posição e cada vez mais rico. 14 Tinha grandes rebanhos de ovelhas e manadas de vacas, assim como muita gente ao seu serviço, de tal forma que os filisteus começaram a invejá-lo. 15 Por isso, começaram a encher de terra os poços que tinham sido todos abertos pelos criados do seu pai, Abraão.

16 Por fim, o rei Abimeleque resolveu pedir-lhe que deixasse o país: “É melhor que nos deixes, porque te tornaste muito mais rico e poderoso do que nós.”

17 Isaque mudou-se para o vale de Gerar e ficou ali a viver. 18 E tornou a abrir os poços que tinham sido cavados pelo pai, e que os filisteus tinham enchido de terra, dando-lhes os mesmos nomes que tinham antes. 19 Além disso, os seus pastores abriram um novo poço no vale de Gerar e encontraram uma fonte subterrânea jorrando águas vivas.

20 Os pastores do sítio vieram reclamá-lo: “O poço é nosso; esta terra é nossa!” E insistiram, levantando discussão sobre o assunto. Por isso, Isaque lhe chamou Poço da Discussão. 21 Os homens de Isaque cavaram outro poço, mas houve de novo contenda por causa da posse da água. Por isso, pôs a esse poço o nome de Poço da Desavença. 22 Foram-se dali e abriram ainda um terceiro poço, mas desta vez não houve luta pela sua posse por parte dos habitantes da terra. Daí que lhe tivesse chamado o Reobote,[c] “Porque agora enfim”, justificou ele, “o Senhor nos deu espaço bastante para vivermos e temos prosperado.”

23 Depois subiu até Berseba. 24 E o Senhor, na noite da sua chegada, disse-lhe: “Eu sou o Deus do teu pai Abraão. Nada receies porque estou contigo e te abençoarei, e farei que os teus descendentes venham a formar uma enorme nação, em consequência do que prometi a Abraão que me serviu e obedeceu.” 25 Então levantou ali um altar ao Senhor e orou. E estabeleceu-se ali, tendo os seus homens aberto outro poço.

26 Um dia, Isaque teve a visita do rei Abimeleque, vindo de Gerar, acompanhado do seu conselheiro e amigo Auzate e do comandante do seu exército, Ficol.

27 “Que pretendem de mim?”, perguntou-lhes Isaque. “Porque é bem evidente que não é com intuitos amigáveis que me vêm visitar, visto que as vossas atitudes têm sido muito pouco cordiais.”

28 “Pois bem”, disseram, “temos visto que na verdade o Senhor tem sido contigo e te tem abençoado. Por isso, decidimos vir pedir-te que façamos um tratado. 29 Tu prometes-nos que não nos farás mal, tal como nós nunca te prejudicámos; da nossa parte só te temos feito bem e deixámos-te partir em paz, quando estiveste connosco. Desejamos-te a bênção do Senhor.”

30 Isaque fez-lhes uma grande festa; comeram e beberam. 31 No dia seguinte, de manhã cedo, logo que se levantaram, juraram solenemente um ao outro um pacto de não agressão. E despediram-se em paz.

32 Nesse mesmo dia, os homens de Isaque vieram dizer-lhe que tinham achado água no poço que tinham estado a cavar. 33 Por essa razão, pôs-lhe o nome de Siba[d]. A povoação que se formou ali ficou a ser chamada Berseba, até hoje.

Jacob apropria-se da bênção de Esaú

34 Esaú, aos 40 anos, casou com uma rapariga chamada Judite, filha de Beeri, hitita. Casou ainda com Basemate, filha de Elom, hitita também. 35 Estas duas mulheres foram para Isaque e Rebeca razão de amargura.

Jacob recebe a bênção de Isaque

27 Um dia, quando Isaque já estava bastante idoso e meio cego, chamou pelo filho mais velho. “Que é, meu pai?”

“Escuta. Eu já estou muito velho e conto com a morte em cada dia que passa. Pega na tua arma de caça e vai ver se apanhas algum animal; prepara-o daquela maneira saborosa que tu sabes que eu gosto. Depois traz-me para que coma e dê a bênção que te pertence como filho mais velho. Depois disso, estarei mais à vontade para morrer, quando chegar o momento.”

Ora Rebeca ouviu essa conversa. Por isso, quando Esaú saiu para caçar, chamou Jacob e disse-lhe “Eu ouvi o teu pai a falar com o teu irmão, Esaú. Estava a dizer-lhe que fosse à caça e lhe preparasse um prato saboroso, para ele comer e para lhe dar a sua bênção em nome do Senhor, antes de morrer. Mas tu vais fazer exatamente o que eu te disser: Vais ao rebanho, trazes-me dois bons cabritos ainda pequenos, e eu própria os prepararei da forma que o teu pai gosta. 10 Depois leva-lhos para que coma e por fim te abençoará antes de morrer!”

11 “Mas, mãe”, retorquiu Jacob, “tu sabes que Esaú é muito cabeludo e que eu tenho a pele lisa; 12 o pai vai querer tocar-me, para se certificar, e vai perceber que o quis enganar, o que trará sobre mim maldição e não bênção!”

13 “Se te amaldiçoar, que isso caia sobre mim, meu filho. Faz o que eu te digo. Vai buscar os dois cabritinhos como te pedi.”

14 Jacob assim fez. Foi buscar os animais, que a mãe preparou conforme o pai gostava. 15 Em seguida, Rebeca trouxe os melhores fatos de Esaú, os fatos dos dias de festa que estavam ali em casa, e mandou que Jacob os vestisse. 16 Depois com as próprias peles dos cabritos fez duas luvas para as mãos do filho, e uma faixa que lhe colocou à volta do pescoço. 17 Por fim, deu-lhe o guisado, que estava muito saboroso e que cheirava muito bem, juntamente com pãezinhos frescos feitos para aquela altura. 18 Jacob levou a comida ao quarto onde o pai estava deitado: “Pai!”, chamou. “Sim, meu filho. Mas quem és, Esaú ou Jacob?” 19 “Sou Esaú, o mais velho. Fiz o que me pediste. Aqui está a caça preparada como tu gostas. Levanta-te, come e abençoa-me segundo tudo o que sentes no coração.”

20 “Como foi que conseguiste apanhar caça assim tão depressa, meu filho?”, perguntou. “Foi o Senhor, teu Deus, que a pôs no meu caminho!” 21 “Chega-te aqui. Quero sentir-te, para ver se és realmente Esaú.” 22 Jacob aproximou-se do pai, que lhe tocou no corpo. “A voz é a de Jacob, mas as mãos são realmente as de Esaú!” 23 E não conseguiu reconhecê-lo porque o disfarce que Jacob trazia o enganou. 24 “És mesmo Esaú?”, perguntou. “Sou, sim!” 25 “Bem, então chega-me a comida. Depois de comer abençoar-te-ei conforme tudo o que sinto no coração.” Jacob chegou-lhe a travessa; ele comeu, acompanhado com o vinho que o filho também lhe trouxera. 26 “Vem cá e dá-me um beijo, meu filho!” 27 Jacob chegou-se e deu-lhe um beijo no rosto. Isaque cheirou os fatos que ele tinha vestido; pareceu convencido e abençoou-o.

“Este cheiro do meu filho é o bom cheiro da terra
e dos campos que o Senhor abençoou!
28 Que Deus te dê sempre abundância de chuvas para as tuas searas,
colheitas ricas e vinho novo.
29 Que os povos te venham a servir e te honrem.
Que sejas senhor dos teus irmãos e que te respeitem.
Malditos sejam os que te amaldiçoarem
e benditos sejam os que te abençoarem.”

30 Isaque tinha acabado de abençoar Jacob, e este apenas tinha saído do quarto onde se encontrava o pai, quando Esaú chegou da caça. 31 Foi também preparar o prato favorito do pai e trouxe-lho: “Pronto, aqui estou eu, meu pai, com a caça que me pediste. Senta-te e come, para que me possas dar então a tua melhor bênção!”

32 “Mas, quem és tu?”

“Sou eu, Esaú, o teu filho mais velho!”

33 Isaque começou a tremer. “Então quem foi que esteve aqui agora mesmo e me deu a comer da caça que eu pedira, e a quem abençoei sem poder voltar atrás?”

34 Esaú, ao ouvir aquilo, começou a clamar desesperado e profundamente amargurado. “Ó meu pai, abençoa-me, abençoa-me também!”

35 “Foi o teu irmão que esteve aqui e me enganou e conseguiu tomar de mim a tua bênção!” 36 E Esaú comentou dececionado: “Não é de admirar que se chame Jacob![e] Primeiro ficou-me com o meu direito de filho mais velho e agora suplanta-me na bênção. Pai, não tens nenhuma bênção para me dar?”

37 “Eu pu-lo por teu senhor; os seus parentes e tu próprio o servirão; garanti-lhe abundância de trigo e de vinho. O que há de ter ficado para ti?”

38 “Nem uma só bênção ficou para mim? Pai, abençoa-me também!” E Esaú chorou de desespero.

39 “Não terás uma vida fácil, nem confortável; a terra não te dará o melhor que tem nem o céu as suas chuvas. 40 Pela espada conseguirás abrir um caminho na vida. Por um tempo servirás o teu irmão, mas por fim libertar-te-ás do seu domínio e ficarás livre.”

Jacob foge para Labão

41 Por isso, Esaú ficou a odiar Jacob, por causa da bênção que o seu pai lhe dera. E disse para consigo: “Meu pai partirá em breve desta vida. Então hei de matar Jacob.” 42 Mas alguém foi pôr Rebeca ao corrente disso. Esta mandou logo chamar Jacob para o avisar que a sua vida estava em perigo devido à ameaça do irmão.

43 “O que há a fazer”, disse ela, “é isto: foge para casa de teu tio Labão, em Harã. 44 Fica lá uns tempos até que passe esta fúria ao teu irmão 45 e esqueça o que lhe fizeste. Nessa altura, mandarei chamar-te. Porque é que vos havia de perder aos dois no mesmo dia?”

46 Rebeca disse depois a Isaque: “Estou cansada e aborrecida por causa das moças hititas. Preferia morrer a ver Jacob casado com uma delas!”

28 Assim, Isaque chamou a Jacob, abençoou-o e disse-lhe: “Não cases com nenhuma destas raparigas cananeias. Vai antes para Padan-Arã, para a casa do teu avô Betuel, e casa com uma das tuas primas, filhas do teu tio Labão. Que Deus, o Todo-Poderoso, te abençoe, te faça frutificar e te multiplique, para que sejas uma multidão de povos! Que Deus te dê, a ti e aos teus descendentes, as ricas bênçãos que prometeu a Abraão. Que venhas a possuir esta terra, em que agora somos estrangeiros, pois que também já a tinha prometido a Abraão.”

Desta forma, foi Jacob mandado pelo pai a Padan-Arã, à casa do seu tio Labão, irmão de sua mãe e filho de Betuel, o arameu.

Esaú deu-se conta de que o pai tinha abençoado Jacob e enviado-o a Padan-Arã, para procurar lá uma moça para casar, com o aviso severo de que nunca procurasse uma cananita. Constatou que Jacob tinha concordado e tinha partido para Padan-Arã. Esaú percebeu então que o pai não tinha em boa conta as mulheres de Canaã. Então Esaú foi à terra do seu tio Ismael, e casou-se com uma das filhas de Ismael, além das que já tinha. Esta mulher com quem se casou, chamava-se Maalate, irmã de Nabaiote e filha do próprio Ismael, filho de Abraão.

O sonho de Jacob em Betel

10 Jacob partiu pois de Berseba a caminho de Harã. 11 Ao anoitecer, procurou um sítio onde passar a noite; procurou uma pedra que lhe servisse de cabeceira e adormeceu. 12 E sonhou com uma escada que ia da Terra ao céu e que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. 13 No cimo da escada estava o Senhor que lhe disse: “Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão e do teu pai Isaque. Esta terra em que estás deitado é tua. Dar-ta-ei a ti e aos teus descendentes. 14 Porque terás tantos descendentes como o pó da Terra; hão de cobrir a Terra do Oriente ao Ocidente e do Norte ao Sul. E todas as nações da Terra serão abençoadas por intermédio de ti e da tua descendência. 15 E mais ainda, eu estou contigo e te protegerei onde quer que fores; hei de tornar a trazer-te com segurança a esta terra. Serei contigo em todos os momentos, a fim de te dar tudo quanto te estou a prometer.”

16 Jacob acordou: “O Senhor está neste lugar e eu não sabia!”, exclamou. 17 E teve medo. “Que lugar tremendo! É mesmo a casa de Deus e a própria entrada do céu!”

18 De manhã levantou-se cedo, pegou na pedra sobre a qual tinha dormido, ergueu-a e colocou-a em forma de pilar, em sinal comemorativo, derramando azeite sobre ela. 19 E chamou àquele sítio Betel,[f] ainda que o nome da localidade próxima fosse Luz.

20 E Jacob formulou este voto: “Se Deus estiver comigo e me proteger nesta viagem, se me der comida e roupa, 21 e me trouxer de novo em segurança à casa dos meus pais, então o Senhor será o meu Deus. 22 Este pilar tornar-se-á um local de adoração e comprometo-me a dar-lhe a décima parte de tudo quanto ele me der.”

Jacob chega a Padan-Arã

29 Jacob continuou a viagem e chegou finalmente ao seu destino na terra oriental. Ainda longe viu três rebanhos descansando junto dum poço no meio do campo, esperando a altura de irem beber. E uma pesada pedra cobria a boca do poço. O hábito era que a pedra só fosse removida quando todos os rebanhos estivessem ali. Depois de se tirar água para os animais, tornava a colocar-se a pedra no seu lugar. Jacob foi ter com os pastores e perguntou-lhes onde viviam: “Em Harã”, disseram.

“Portanto, conhecem um homem chamado Labão, descendente de Naor?” Responderam-lhe: “Com certeza!”

Jacob perguntou ainda: “Ele está bem?” Ao que responderam: “Sim! Olha, vem ali a filha Raquel com um rebanho!”

“Porque é que não tiram água para os animais, para que possam voltar às pastagens?”, perguntou Jacob. “Vão ficar com fome se param de comer assim tão cedo!”

“É que nós só afastamos a pedra e tiramos água depois dos rebanhos estarem todos juntos.”

E enquanto falavam, chegou Raquel com o rebanho do pai, porque também era pastora. 10 Ao ver Raquel, filha do seu tio Labão, com o rebanho de seu tio, Jacob aproximou-se e retirou a pedra de cima do poço e deu água ao rebanho do seu tio Labão. 11 Depois beijou Raquel; não se conteve e começou a chorar. 12 Explicou que era seu primo, filho da sua tia Rebeca. A moça foi a correr contar tudo ao pai. 13 Labão, assim que viu que era Jacob que chegava, precipitou-se ao seu encontro, recebendo-o com muita afeição, levando-o para casa, ouvindo do sobrinho tudo o que este lhe contou da sua vida.

14 “Tu és realmente da mesma carne, do mesmo sangue que eu!”, exclamou Labão comovido. Depois de Jacob ter estado ali com eles um mês inteiro, 15 Labão disse-lhe: “Não é por sermos parentes que vais ficar aqui a trabalhar sem salário. Diz-me quanto queres ganhar.”

Jacob casa com Leia e Raquel

16 Labão tinha duas filhas, Leia a mais velha, e a segunda, Raquel. 17 Leia tinha uns olhos muito bonitos, mas Raquel era formosa e tinha encanto. 18 Ora como Jacob amava Raquel, disse: “Trabalho para ti durante sete anos e depois deixas-me casar com Raquel.”

19 “De acordo! Prefiro dar-ta a ti do que a um outro qualquer fora da família!”

20 Dessa forma, trabalhou Jacob sete anos por Raquel; e pareceu-lhe pouco tempo pelo muito que a amava. 21 Chegou por fim a altura de casar com ela.

“Cumpri o contrato. Agora dá-me Raquel para que seja minha mulher”, disse a Labão.

22 Labão juntou os homens todos do sítio para fazer uma festa celebrando o acontecimento. 23 Quando a noite já ia avançada, Labão, aproveitando-se do escuro, trouxe Leia aos aposentos de Jacob, o qual veio a tomá-la por mulher. 24 Labão deu a Leia, para ser sua criada, uma empregada da casa chamada Zilpa.

25 Na manhã seguinte Jacob foi ter com Labão, todo indignado: “Mas que foi isto? Porque me enganaste? Não trabalhei eu sete anos para ter Raquel?”

26 “É que não é costume fazer assim nesta terra”, respondeu o sogro. “Nunca se dá a filha mais nova em casamento antes da outra! 27 Deixa passar a semana habitual de núpcias e terás Raquel também, se prometeres trabalhar para mim mais sete anos!”

28 E Jacob concordou em trabalhar outros sete anos, ficando com Raquel igualmente.

29 A criada que o pai deu a Raquel, por sua vez, foi Bila. 30 Raquel tornou-se mulher de Jacob que a amou mais do que a Leia, não se importando de ficar a trabalhar por ela mais sete anos.

Os filhos de Jacob

31 O Senhor, vendo que Jacob dava pouca atenção a Leia, deu-lhe um filho, enquanto Raquel se manteve estéril. 32 Leia ficou grávida e teve um filho a quem chamou Rúben (olhem, um filho!), porque disse: “O Senhor reparou na minha humilhação. Agora o meu marido passará a amar-me.”

33 Depois ficou outra vez grávida e teve outro filho a quem chamou Simeão (ouviu). E exclamou: “O Senhor ouviu que eu não era amada e deu-me outro filho!”

34 Tornou a conceber e a ter mais um filho, pondo-lhe o nome de Levi (ligar). “Com certeza que desta vez o meu marido se ligará mais a mim, pois já é o terceiro filho que lhe dou!”, disse ela.

35 E ainda mais uma vez ficou grávida e deu à luz outro menino chamado Judá (louvar). “Agora”, exclamou ela, “só posso fazer uma coisa, é louvar o Senhor!” E cessou de ter filhos.

30 Raquel, vendo que era estéril, teve inveja da irmã. “Dá-me filhos, se não morro”, disse a Jacob. Este teve de lhe responder, contrariado: “Eu não estou no lugar de Deus. Só ele sabe porque te impediu de ter filhos!”

Então Raquel disse-lhe: “Toma a minha criada Bila. Os filhos que ela tiver serão meus.” Deu-lhe pois Bila por mulher, a qual ficou grávida e lhe deu um filho. Raquel chamou-lhe Dan (fazer justiça), “Porque”, disse ela, “Deus fez-me justiça, ouvindo o meu pedido e dando-me um filho.” Bila, criada de Raquel, tornou a conceber e a dar a Jacob outro filho. Raquel deu-lhe o nome de Naftali (lutar): “Lutei com a minha irmã e ganhei!”

Entretanto, quando Leia se deu conta de que não engravidava como antes, resolveu dar também a sua criada Zilpa a Jacob. 10 E esta deu-lhe um filho. 11 E Leia exclamou: “Que sorte!” Por isso chamou-lhe Gad (sorte). 12 Zilpa tornou a dar-lhe outro filho; 13 Leia pôs-lhe o nome de Aser (feliz): “As outras mulheres vão considerar-me feliz, com certeza!”

14 Um dia, durante a colheita de trigo, Rúben achou no campo umas mandrágoras e trouxe-as a sua mãe, Leia. Raquel pediu-lhe que lhe desse algumas. 15 Mas Leia respondeu-lhe aborrecida: “Achas pouco teres ficado com o meu marido e ainda me pedes as mandrágoras do meu filho?”

Raquel propôs-lhe então: “Ele poderá ficar contigo esta noite se me deres as mandrágoras.”

16 Ao fim do dia, quando Jacob regressava do campo, Leia foi-lhe ao encontro: “Esta noite ficas comigo. Tenho esse direito em troco de uma quantas mandrágoras que o meu filho encontrou!” E assim foi. 17 Deus respondeu às orações de Leia, que ficou grávida de novo e deu à luz um quinto filho; 18 chamou-lhe Issacar (recompensar): “Deus quis recompensar-me pelo sacrifício que fiz, dando ao meu marido a minha criada!”

19 Depois disso, ficou ainda outra vez à espera de um filho, que foi o seu sexto. 20 Chamou-lhe Zebulão (grande consideração), pois exclamara ao ter este menino: “Deus deu-me um belo presente! Desta vez o meu marido ter-me-á em grande consideração, porque já lhe dei seis filhos!”

21 Passado um tempo teve uma filha a quem deu o nome de Dina.

22 Nessa altura, Deus quis responder a Raquel e permitiu que ficasse grávida. 23 Teve pois um filho: “Deus tirou a vergonha que pesava sobre a minha vida!”, disse. 24 E chamou-lhe José (acrescentar), porque fez esta oração: “Que o Senhor me dê outro filho!”

Os rebanhos de Jacob aumentam

25 Logo após o nascimento de José, Jacob disse a Labão: “Vou regressar a casa. 26 Deixa-me levar as minhas mulheres e os meus filhos, pelos quais trabalhei para ti, para que partamos todos. Sabes bem que te paguei largamente com o serviço que te prestei.”

27 “Não! Peço-te muito que não me deixes”, respondeu Labão. “Eu tenho verificado que o Senhor me tem abençoado assim tanto por amor a ti e por teres estado aqui comigo. 28 Diz-me quanto é que queres que te pague mais e dar-te-ei o que pretenderes.” 29 Jacob retorquiu: “Pudeste ver perfeitamente como te servi fielmente durante todos estes anos e como o teu gado cresceu pelos meus cuidados. 30 Porque o que tinhas antes era relativamente pouco em comparação com os rebanhos que agora tens. O Senhor tem te enriquecido muito através do meu trabalho. Quanto a mim, quando é que começo a trabalhar para a minha própria família?”

31 “Bom, pois diz então quanto queres.” E Jacob respondeu: “Não te peço nenhuma quantia exata como salário. Voltarei a trabalhar para ti, se estiveres de acordo com o que vou propor-te. 32 Passarei por entre os teus rebanhos hoje e porei de parte todas as cabras malhadas e todos os cordeiros de pelo escuro. Serão esses o meu salário. 33 E assim verás por ti próprio que se houver algum animal no meu rebanho que não tenha essas marcas é porque não me pertence.”

34 “Está bem. Seja assim como disseste.” 35 Nesse mesmo dia, Labão foi logo separar todos os bodes e cabras que tinham manchas ou listas e todos os cordeiros de pelo escuro e deu-os aos filhos dele, os seus netos. 36 E deixou três dias de caminho como intervalo entre si e os rebanhos de Jacob. Este continou a pastorear o resto dos rebanhos de Labão.

37 Jacob, contudo, pegou em ramos verdes de choupos, amendoeiras e plátanos e descascou-os de forma a deixá-los às riscas brancas. 38 Pôs esses ramos nos sítios onde o rebanho ia beber, de maneira que os animais os vissem, 39 porque era em geral nessa altura que concebiam; o que realmente aconteceu: as suas crias saíam malhadas e às riscas. E Jacob pô-las no seu rebanho. 40 Depois separou no rebanho de Labão as ovelhas dos cordeiros, e só as deixou conceber com os cordeiros de pelo escuro. Assim, foi fazendo aumentar o seu rebanho a partir do de seu sogro. 41 Além disso, quando eram os animais mais fortes que concebiam, tinha o cuidado de lhes pôr na frente os ramos às riscas. 42 Mas se eram ovelhas fracas, deixava-as à vontade. Dessa forma, as fracas eram de Labão e as fortes ficavam para si.

43 Assim, os rebanhos de Jacob cresceram rapidamente e ele tornou-se rico, possuidor, além disso, de camelos, jumentos e muita criadagem.

Jacob foge de Labão

31 Jacob começou a ouvir o que os filhos de Labão diziam; que tudo o que tinha o tirara ao pai e que à custa deste é que enriquecera. E Jacob via bem o esfriamento da atitude de Labão em relação a si próprio.

Então o Senhor falou a Jacob: “Volta para a terra dos teus pais e da tua família. Eu hei de estar sempre contigo.”

Por isso, um dia Jacob mandou chamar Raquel e Leia ao campo, lá onde estava a guardar os rebanhos, para lhes falar destas coisas: “O vosso pai mudou muito comigo, mas o Deus do meu pai tem estado comigo. Vocês sabem como tenho trabalhado duramente para o vosso pai. Contudo, ele enganou-me e alterou várias vezes o contrato de salário que fiz com ele. Deus, no entanto, não permitiu que eu fosse prejudicado. Porque quando dizia que todos os animais malhados seriam meus, então todo o rebanho dava malhados. Depois, quando alterava e dizia que seriam antes os de listas os meus, o rebanho dava só listados! Foi dessa forma que Deus me fez enriquecer à custa do rebanho do vosso pai. 10 Então, na altura do rebanho conceber, tive um sonho em que os bodes que fecundavam as ovelhas eram listados, sarapintados ou às manchas.

11 A certa altura desse sonho o anjo de Deus chamou-me: ‘Jacob!’ E eu disse: ‘Estou aqui!’ 12 E ele disse-me que devia juntar as cabras brancas aos bodes listados, sarapintados e manchados. ‘Tenho visto o que Labão fez contigo. 13 Eu sou o Deus que te encontrou em Betel, naquele lugar em que me consagraste uma pedra levantada como monumento e em que fizeste voto de me servir. Portanto, deixa agora esta terra e volta para onde está a tua família.’ Foram as suas palavras.”

14 Raquel e Leia responderam-lhe: “Estamos inteiramente de acordo. Aliás, não há aqui nada para nós. Nenhuma parte dos bens do nosso pai nos caberia em herança, fosse de que maneira fosse. 15 Pelo contrário, reduziu os nossos direitos aos de meras mulheres estranhas à casa. Vendeu-nos e até o dote a que tínhamos direito ficou com ele! 16 Portanto, toda a fortuna que Deus tirou ao nosso pai agora é nossa e dos nossos filhos; por isso vai, faz tudo o que Deus te disse.”

17 Assim, um certo dia, Jacob pôs as mulheres e os filhos em camelos e partiu 18 levando consigo todos os rebanhos que tinha obtido em Padan-Arã, assim como tudo o que adquirira ali, e partiu para regressar junto do seu pai Isaque, na terra de Canaã. 19 Raquel chegou mesmo a roubar da casa do pai os ídolos, quando tinha ido tosquiar o rebanho. 20 Assim, Jacob enganou Labão, o arameu, seu sogro, ao fugir da casa dele sem lhe dizer nada. 21 Jacob fugiu com tudo o que possuía e atravessou o rio Eufrates, tomando a seguir a direção do território de Gileade.

Labão persegue Jacob

22 Labão só soube dessa fuga três dias depois. 23 Tomou consigo vários homens da sua casa e foi em perseguição deles, só os apanhando sete dias mais tarde, nos montes de Gileade. 24 Nessa noite, Deus apareceu-lhe num sonho: “Vê bem o que vais dizer a Jacob! Não o amaldiçoes nem tão-pouco cuides em abençoá-lo.”

25 Labão conseguiu finalmente apanhá-los quando acampavam nos montes de Gileade. Ele e os seus homens fizeram o mesmo nas proximidades.

26 “Que significa isto, que te esquivaste assim de mim?”, perguntou-lhe Labão. “Levas-me as minhas filhas como se tivessem sido feitas prisioneiras numa batalha! 27 Porque é que nem sequer me deste a possibilidade de fazer uma festa de despedida em que houvesse alegria, se cantasse e se tocasse? 28 Nem sequer me deixaste beijar os meus netos e netas. Foi muito estranho e muito insensato o que fizeste. 29 Tinha agora a possibilidade de te fazer mal, de me vingar, mas o Deus do teu pai falou comigo ontem à noite, dizendo-me que visse bem que não te amaldiçoasse nem sequer te abençoasse. 30 Queria contudo perguntar-te uma coisa: Embora quisesses muito ir embora, porque tinhas saudades dos teus e da tua casa, por que razão havias tu de me roubar os meus ídolos?”

31 Jacob retorquiu-lhe: “Se me esquivei foi porque tinha medo e pensei que talvez quisesses tirar-me pela força as tuas filhas. 32 Mas quanto aos deuses da tua casa, morra aquele que os tiver tirado! Seja o que for que achares aqui entre nós, e que seja teu, podes levá-lo sem mais problemas.”

Jacob não sabia que Raquel os tinha furtado.

33 Labão foi primeiramente à tenda de Jacob e procurou lá. Depois foi à de Leia e à de ambas as criadas e não achou nada. Por fim, entrou na de Raquel. 34 Mas Raquel tinha-os escondido sob a albarda dum camelo e por isso foi-se sentar nele. Labão procurou por toda a parte na tenda e também não viu nada.

35 “Pai, desculpa-me se não me levanto”, disse, “mas é que estou menstruada!”

36 Então Jacob ficou mesmo irritado contra Labão e perguntou-lhe: “Bom e então? O que é que encontraste? Qual foi afinal o meu crime? Vieste em minha perseguição como se fosse um criminoso. 37 Fizeste-me uma busca completa. Põe aqui diante de nós tudo o que eu tenho roubado, para que a tua gente e nós próprios o vejamos e se possa decidir quem é o culpado. 38 Afinal, sabes bem, estive 20 anos contigo, cuidando dos teus animais que sempre deram crias saudáveis e nunca comi sequer um carneiro do teu rebanho. 39 Se acontecia que algum animal do rebanho era atacado por uma fera não o vinha trazer pedindo-te para tomares nota de que havia um a menos. Pelo contrário, pagava-to. Aliás, qualquer animal que tivesse sido roubado, fosse quando fosse, de dia ou de noite, querias que o pagasse, tivesse eu ou não a responsabilidade do rebanho na altura do roubo! 40 Trabalhei para ti tanto sob o calor ardente do dia como durante o frio das noites geladas em que até nem podia dormir. 41 Sim, foram 20 anos: foram 14 para ganhar as tuas duas filhas e mais 6 para conseguir os rebanhos que tenho; e dez vezes mudaste-me o salário! 42 Se não fosse a misericórdia de Deus, o Deus de Abraão meu avô, o grande Deus de Isaque meu pai, ter-me-ias mandado embora sem um centavo. Mas Deus deu atenção à situação em que me encontrava, tomou em consideração o meu duro trabalho e viu a tua crueldade, por isso te apareceu ontem à noite!”

43 Labão respondeu-lhe por sua vez: “Estas mulheres são minhas filhas e estes moços são também filhos meus; e até esses rebanhos e tudo o que tens é, afinal, meu. Mas o que poderia eu fazer com as minhas próprias filhas e os meus netos? 44 Vamos fazer um tratado de paz e dele ficarão dependentes as nossas relações.”

45 Jacob pegou numa pedra e ergueu-a em sinal de monumento comemorando essa aliança. 46 Depois disse aos seus homens que juntassem várias pedras. E assim eles fizeram. Juntaram e fizeram um monte de pedras e junto a ele, comeram. 47 Chamaram-lhe a Pilha do Testemunho; na língua de Labão[g] Jegar-Saaduta e na de Jacob[h] Galeede.

48 E Labão disse: “Que esta pilha de pedras sirva como testemunho da aliança entre mim e ti.” Por isso, o seu nome será Galeede. 49 Também ficou conhecida pela Coluna da Vigilância ou Mizpá[i], porque Labão também declarou: “Que seja o Senhor mesmo a vigiar se cumprimos este tratado, quando estivermos longe um do outro. 50 Que seja ele próprio a verificar se vieres a tratar mal as minhas filhas ou a tomar outras mulheres além delas. Eu poderei não saber nada, mas Deus há de vê-lo. 51-52 Esta pilha de pedras”, continuou Labão, “e esta outra levantada em padrão, lembrará a toda a gente a promessa que fizemos de que nem eu passarei esta linha para ir atacar-te nem tu a atravessarás para me combater. 53 Que seja o próprio Deus de Abraão, o de Naor e do seu pai, a julgar qualquer tentativa de quebra desta aliança por parte de um de nós.”

Jacob jurou, perante o poderoso Deus do seu pai Isaque, que havia de respeitar esse tratado. 54 E apresentou a Deus um sacrifício ali mesmo no cimo daquela montanha, convidando os seus companheiros para uma festa; assim comeram e passaram juntos a noite naquele monte.

Footnotes

  1. 25.25 O nome do irmão de Jacob é homófono de uma palavra hebraica que significa cabelo.
  2. 25.26 Que significa enganar, agarrar o calcanhar, suplantador.
  3. 26.22 Em hebraico, Reobote significa Poço da Largueza.
  4. 26.33 Em hebraico, Siba significa juramento e sete. Berseba, por seu turno, significa poço do juramento e poço das sete (ovelhas). Ver nota a 21.31.
  5. 27.36 Isto é, Suplantador.
  6. 28.19 Isto é, Casa de Deus.
  7. 31.47 Em aramaico.
  8. 31.47 Em hebraico.
  9. 31.49 Em hebraico.