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O Espírito Santo desce no Pentecostes

Chegado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, vindo dos céus, ouviu-se um som semelhante ao rugido de um furacão, que encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram então línguas como que de fogo que pousaram sobre as suas cabeças. E todos os presentes ficaram cheios do Espírito Santo, começando a falar línguas que desconheciam, conforme o poder que o Espírito Santo lhes dava.

Encontravam-se naquele dia em Jerusalém, para assistir às celebrações religiosas, muitos judeus piedosos vindos de todas as nações do mundo. Ao ouvir-se aquele rugido, o povo acorreu para ver o que se passava, e todos ficaram pasmados, pois cada um ouvia os discípulos falar na sua própria língua.

Atónitos e admirados, interrogavam-se: “Como é que isto pode ser? Estes homens não são da Galileia? Como é que os ouvimos falar nas línguas dos países onde nascemos? Estamos aqui, partos, medos, elamitas, gente da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto, Ásia, 10 Frígia, Panfília, Egito, terras da Líbia perto de Cirene, forasteiros vindos de Roma, 11 (tanto judeus como convertidos ao judaísmo), cretenses e árabes. Todos ouvimos estes homens contar nas nossas diversas línguas os poderosos milagres de Deus!” 12 E ficaram atónitos, sem saber o que pensar, perguntando uns aos outros: “Que quer isto dizer?” 13 Mas também havia quem troçasse: “Beberam demais!”

Pedro fala à multidão

14 Então Pedro, avançando com os onze apóstolos, falou à multidão: “Escutem, homens da Judeia e moradores de Jerusalém! 15 Há quem esteja por aí a dizer que estes homens se embriagaram! Não é verdade! São apenas nove horas da manhã! 16 Aquilo a que acabam de assistir foi predito há séculos pelo profeta Joel:

17 ‘Nos últimos dias, disse Deus,
derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade.
Os vossos filhos e filhas profetizarão,
os vossos jovens terão visões e os vossos velhos sonhos.
18 Derramarei o meu Espírito,
mesmo sobre os meus servos e servas, naqueles dias,
e profetizarão.
19 Farei aparecer maravilhas no céu, lá no alto
e sinais na Terra, cá em baixo,
sangue, fogo e colunas de fumo.
20 O Sol escurecerá e a Lua ficará vermelha como o sangue,
antes de vir o grande e terrível dia do Senhor.
21 E todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo.’[a]

22 Gente de Israel, ouçam! Deus deu testemunho público de Jesus de Nazaré com os espantosos milagres que através dele realizou, como bem sabem. 23 Mas, de acordo com o seu plano, deixou que se servissem de mãos de injustos para o pregarem na cruz e o assassinarem. 24 Porém, Deus libertou-o dos horrores da morte, trazendo-o de novo à vida, pois a morte não poderia ter prendido este homem.

25 Já o rei David tinha dito estas palavras referindo-se a Jesus:

‘Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim.
E, visto que ele está ao meu lado, não serei movido.
26 Portanto o meu coração está alegre
e a minha alma está satisfeita.
O meu corpo repousará em esperança.
27 Porque sei que não deixarás a minha alma no inferno,
nem permitirás que o teu Santo conheça a corrupção.
28 Deste-me a conhecer os caminhos da vida
e as abundantes alegrias que há na tua presença.’[b]

29 Irmãos, permitam que vos diga isto com toda a clareza: o nosso antepassado David não se referia a si próprio, pois morreu e foi sepultado, e o seu túmulo ainda está entre nós! 30 Mas era profeta e sabia que Deus tinha prometido com juramento que um dos seus descendentes seria o Cristo e se sentaria no seu trono. 31 David previa e anunciava a ressurreição de Cristo, dizendo dele que a sua alma não seria deixada no inferno e que o seu corpo não conheceria a corrupção.

32 Referia-se, pois, a Jesus, e todos nós somos testemunhas de que Deus o ressuscitou dos mortos; 33 encontrando-se agora à direita de Deus. E cumprindo a promessa que fizera, o Pai deu-lhe autoridade para enviar o Espírito Santo, com os resultados que hoje estão a ver e a ouvir.

34 Não, David nunca subiu aos céus. Ele próprio afirmou:

‘Disse o Senhor ao meu Senhor:
“Senta-te à minha direita,
35 até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.” ’[c]

36 Portanto, declaro a todos em Israel que Deus fez deste Jesus, que vocês crucificaram, o Senhor e o Cristo!”

37 Estas palavras de Pedro causaram tão grande convicção que o povo lhe disse a ele e aos outros apóstolos: “Irmãos, que devemos fazer?”

38 E Pedro respondeu: “Cada um deve arrepender-se do seu pecado, converter-se a Deus e ser batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados. E então receberão também este dom do Espírito Santo. 39 Pois Cristo prometeu-o a todos quantos ouvirem a chamada do Senhor nosso Deus, tanto vocês como os vossos filhos, e até os que estão em terras distantes!” 40 Pedro continuou com persuasão a falar-lhes de Jesus, e insistia para que se salvassem, se livrassem dos males do seu tempo.

A fraternidade dos crentes

41 Aqueles que creram nas palavras de Pedro foram batizados; cerca de três mil ao todo. 42 E juntaram-se aos outros crentes, participando regularmente no ensino administrado pelos apóstolos, na união fraterna, no partir do pão e nas orações. 43 Todos sentiam profundo temor e respeito e os apóstolos faziam muitos sinais. 44 Os crentes encontravam-se constantemente e repartiam tudo uns com os outros, 45 vendendo os seus bens e pertences, e partilhavam o produto por todos, segundo a necessidade de cada um. 46 Cada dia adoravam juntos no templo; reuniam-se em pequenos grupos familiares para celebrar a comunhão, e tomavam as refeições juntos, 47 com grande alegria e gratidão, louvando Deus. A cidade inteira via-os com bons olhos e todos os dias Deus ia acrescentando ao seu número aqueles que se salvavam.

Pedro cura o mendigo coxo

Certa tarde, Pedro e João foram ao templo para a oração, às três horas da tarde. E viram um homem coxo de nascença transportado por outros para ser deixado junto de uma porta do templo, chamada porta Formosa, como acontecia todos os dias, para pedir esmola. Quando Pedro e João iam a passar, o homem pediu-lhes esmola.

Eles olharam-no com atenção e Pedro, por fim, disse-lhe: “Olha para nós!” O coxo fitou-os, na esperança da esmola. Mas Pedro continuou: “Não tenho prata nem ouro para te dar! Mas aquilo que tenho te dou: em nome de Jesus Cristo de Nazaré, levanta-te e anda!”

E pegando no coxo pela mão direita ajudou-o a levantar-se. Ao fazê-lo, os ossos dos pés e artelhos fortaleceram-se. Erguendo-se de um salto, ficando de pé, o homem começou a caminhar! E andando, saltando e dando louvores a Deus, entrou no templo com eles.

Quando o povo o viu andar, o ouviu louvar Deus, 10 e se apercebeu de que era o mesmo pedinte coxo que tantas vezes encontravam na porta Formosa, a surpresa foi enorme. 11 Todos correram ao Alpendre de Salomão, onde se conservava junto de Pedro e João, e não houve quem não ficasse pasmado com aquilo que de tão maravilhoso acontecera.

Pedro discursa no templo

12 Aproveitando a oportunidade, Pedro dirigiu-se à multidão: “Homens de Israel, que tem isto assim de tão espantoso? E porque nos olham como se tivéssemos sido nós que, pelo nosso poder ou santidade, tivéssemos feito com que este homem andasse? 13 Foi o Deus de Abraão, de Isaque, de Jacob e de todos os nossos antepassados quem trouxe glória ao seu servo Jesus através deste ato. Estou a falar daquele a quem rejeitaram perante Pilatos, apesar de este ter decidido pô-lo em liberdade. 14 Mas vocês não queriam liberto esse homem santo e justo; em vez disso, pediram que fosse solto um assassino. 15 Mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou. Somos testemunhas disso!

16 Foi o nome de Jesus que curou este homem e sabem como dantes era coxo. A fé no nome de Jesus, fé que nos vem de Deus, é que produziu esta cura perfeita.

17 Irmãos, compreendo que aquilo que fizeram a Jesus foi por ignorância e o mesmo se pode dizer dos vossos líderes. 18 Mas Deus estava a dar cumprimento ao que fora predito por intermédio dos profetas, segundo as quais o Cristo teria de padecer todas estas coisas. 19 Agora, porém, arrependam-se e voltem-se para ele, 20 para que vos purifique dos vossos pecados e vos mande tempos de renovação pela presença do Senhor, e para que vos envie Jesus Cristo. 21 Ele deverá continuar no céu até que chegue o tempo de Deus restaurar todas as coisas, de acordo com o que ele declarou desde os tempos antigos, por intermédio dos seus santos profetas. 22 Moisés disse há muito: ‘O Senhor, vosso Deus, levantará entre os vossos irmãos um profeta semelhante a mim. Ouçam tudo o que ele vos disser. 23 Toda a pessoa que não escutar esse profeta perecerá, excluída do povo.’[d]

24 Samuel e todos os profetas que lhe sucederam falaram do que está a acontecer hoje. 25 Vocês são os filhos destes mesmos profetas e estão abrangidos pela aliança que Deus fez aos vossos antepassados, ao dizer a Abraão: ‘Na tua descendência todas as nações da Terra serão abençoadas.’[e] 26 Quando Deus elegeu o seu Servo, enviou-o em primeiro lugar a vocês, homens de Israel, para vos abençoar, desviando-vos das vossas maldades.”

Pedro e João perante o conselho judaico

Enquanto assim falavam ao povo, chegaram os sacerdotes, o comandante da guarda do templo e os saduceus, muito preocupados por Pedro e João ensinarem o povo, pela autoridade de Jesus, que há ressurreição dos mortos. Prenderam-nos e, uma vez que já era noite, meteram-nos na cadeia, aguardando o dia seguinte. Mas muitas das pessoas que tinham ouvido a sua mensagem acreditaram nela. Em consequência, o número de crentes passou para cerca de 5000, contando só os homens!

No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém os líderes, os anciãos e especialistas na Lei, Anás o sumo sacerdote, Caifás, João, Alexandre e todos quantos havia da linhagem do sumo sacerdote. E, pondo-os no meio, perguntaram: “Com que poder ou com que autoridade fizeram uma coisa destas?”

Então Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes: “Líderes e anciãos do povo: se se referem ao bem praticado naquele coxo que foi curado, 10 deixem que vos diga claramente, a vós e a todo o povo de Israel que tal ato foi feito em nome e pelo poder de Jesus de Nazaré, o Cristo, o homem que crucificaram, mas que Deus ressuscitou. É pela sua autoridade que este se encontra aqui curado! 11 Pois Jesus é:

‘A pedra que vocês, os construtores, rejeitaram
veio a tornar-se a pedra fundamental do edifício!’[f]

12 Em mais ninguém há salvação! Debaixo do céu não há outro nome que as pessoas possam invocar para serem salvas.”

13 Quando os membros do conselho viram a coragem de Pedro e João, e perceberam que eram pessoas sem instrução, ficaram pasmados, reconhecendo que tinham realmente estado com Jesus. 14 E como poderiam pôr em dúvida aquela cura quando o antigo coxo se encontrava ali de pé? 15 Mandaram-nos então sair da sala do conselho e puseram-se a discutir o caso entre si.

16 “Que vamos fazer com estes homens?”, perguntavam uns aos outros. “Não podemos negar que realizaram um sinal assinalável e toda a gente em Jerusalém tem conhecimento dele. 17 Mesmo assim, talvez possamos impedi-los de espalhar a sua propaganda. Vamos ameaçá-los, para que não tornem a falar do nome de Jesus a ninguém.”

18 Assim, voltaram a chamá-los e ordenaram-lhes que nunca mais mencionassem nem ensinassem no nome de Jesus. 19 Contudo, Pedro e João responderam: “Acham justo que obedeçamos antes às vossas ordens do que às de Deus? 20 Não podemos deixar de falar no que Jesus fez e disse na nossa presença.”

21 O conselho ameaçou-os ainda mais, mas por fim deixou-os ir embora, porque não sabia como castigá-los sem provocar uma revolta, pois toda a gente glorificava Deus pelo que tinha acontecido. 22 O homem que fora curado por meio daquele sinal tinha mais de quarenta anos.

A oração dos crentes

23 Logo que se viram em liberdade, Pedro e João foram ter com os outros discípulos e contaram-lhes o que lhes disseram os principais sacerdotes e os anciãos. 24 Então todos os crentes, unidos, fizeram esta oração: “Ó soberano, que fizeste o céu, a Terra, o mar e tudo quanto há neles, 25 falaste há muito tempo pelo Espírito Santo, por meio do nosso antepassado, o rei David, teu servo, dizendo:

‘Porque se revoltam os povos?
Porque elaboram eles planos vãos?
26 Os reis da Terra reúnem-se com os líderes,
para conspirarem contra o Senhor e contra o seu Messias!’[g]

27 Foi o que verdadeiramente aconteceu, pois o rei Herodes e Pôncio Pilatos e as nações, além do povo de Israel, reuniram-se nesta cidade contra Jesus, o teu santo Servo, que tu ungiste. 28 Mas não fizeram mais do que aquilo que, no teu poder e vontade, determinaste que fizessem. 29 Agora, Senhor, escuta as suas ameaças e concede aos teus servos ousadia na pregação. 30 Estende a tua mão para curar e realizar sinais e maravilhas pelo nome do teu santo Servo Jesus!”

31 Depois desta oração o edifício em que se encontravam reunidos estremeceu e todos foram cheios do Espírito Santo, pregando corajosamente a palavra de Deus.

Os crentes repartem os seus haveres

32 Todos os crentes tinham um só coração e um só espírito, e ninguém considerava seu o que lhe pertencia, repartindo os haveres uns com os outros. 33 Os apóstolos davam testemunhos poderosos acerca da ressurreição do Senhor Jesus. Havia, sob a bênção de Deus, uma atitude de grande estima da parte de todos para com eles. 34 Não se sabia o que era a pobreza, pois quem tinha terras ou casas vendia-as, levando o produto da venda 35 para o entregarem aos apóstolos, e distribuíam-no segundo a necessidade de cada um.

36 Foi o caso de José, um levita de Chipre, a quem os apóstolos puseram o nome de Barnabé, que quer dizer “filho do consolo”. 37 Este vendeu um campo e entregou o dinheiro obtido aos apóstolos.

Ananias e Safira

Houve também um homem chamado Ananias que, com sua mulher Safira, vendeu uns bens que possuía. E só entregou parte do dinheiro aos apóstolos, dizendo que era o seu preço total, e isto com a cumplicidade da mulher.

Mas Pedro disse-lhe: “Ananias, porque entrou Satanás no teu coração? Quando disseste que este era o preço total, estavas a mentir ao Espírito Santo. A propriedade que tinhas podias vendê-la ou não, conforme quisesses. E depois de a vender, o dinheiro era teu. Porque determinaste no teu coração fazer uma coisa destas? Não foi a nós que mentiste, mas a Deus!”

Ao ouvir estas palavras, Ananias caiu morto no chão. Toda a gente que soube disto ficou atemorizada. Então alguns jovens cobriram-no com um lençol e levaram-no para o enterrar.

Passadas cerca de três horas, chegou a mulher, que não sabia do sucedido. Pedro perguntou-lhe: “Diz-me: foi por este preço assim que venderam o vosso terreno?”

“Sim, foi!”, respondeu-lhe ela.

E Pedro disse: “Porque puderam então, tu e o teu marido, fazer uma coisa destas para tentar o Espírito Santo? Olha, ali mesmo à porta estão os jovens que foram enterrar o teu marido e que te vão levar a ti também.”

10 Imediatamente tombou morta no chão. Os mesmos jovens entraram e, vendo que tinha morrido, levaram-na e enterraram-na ao lado do marido. 11 Um grande temor se apossou da igreja inteira e de todos os que souberam do sucedido.

Os apóstolos curam muitos doentes

12 Entretanto, os apóstolos faziam muitos sinais e maravilhas entre o povo e os crentes reuniam-se regularmente no templo, no local conhecido como Alpendre de Salomão. 13 Ninguém mais se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo tinha-os na maior consideração. 14 E cada vez mais pessoas criam no Senhor, uma multidão de homens e mulheres. 15 Como resultado do trabalho dos apóstolos, chegavam a levar os doentes para a rua deitados em camas e esteiras, para que ao menos a sombra de Pedro lhes tocasse, quando o apóstolo por ali passasse! 16 E também dos arredores de Jerusalém vinham pessoas que traziam os enfermos e os possessos pelos espíritos impuros, e todos eram curados.

Os apóstolos são perseguidos

17 O sumo sacerdote, mais os seus amigos, que eram saduceus, sentiam tanta inveja 18 que acabaram por prender os apóstolos, metendo-os na prisão. 19 De noite, porém, veio um anjo do Senhor que, abrindo os portões da cadeia e trazendo os presos para a rua, lhes disse: 20 “Vão para o templo e preguem ao povo tudo acerca desta vida nova.” 21 Os apóstolos obedeceram e dirigiram-se de madrugada para o templo, onde se puseram a ensinar.

Entretanto, o sumo sacerdote e a sua comitiva chegaram e convocaram o conselho judaico, juntamente com a assembleia dos anciãos de Israel, e mandaram que os apóstolos fossem trazidos da prisão, a fim de serem julgados. 22 Mas, quando os guardas chegaram ao cárcere, os presos já lá não estavam, pelo que, regressando ao conselho, 23 disseram: “Encontrámos as portas da prisão fechadas com toda a segurança e os guardas vigiando no exterior, mas quando abrimos os portões não havia ninguém lá dentro!”

24 Ao ouvir isto, o chefe da guarda do templo e os principais sacerdotes ficaram perplexos, sem saber o que acontecera, nem no que tudo aquilo iria dar. 25 Até que chegou alguém com a notícia: “Os homens que os senhores meteram na prisão encontram-se aqui mesmo, no templo, e estão a ensinar o povo!” 26 O comandante da guarda foi então com os seus oficiais e prendeu-os, mas sem violência, pois receavam que o povo os apedrejasse. 27 E assim os levaram à presença do conselho, onde foram interrogados pelo sumo sacerdote.

28 “Não vos dissemos que nunca mais ensinassem no nome desse tal Jesus?”, perguntou o sumo sacerdote. “Em vez disso, encheram toda a Jerusalém com o vosso ensino e pretendem lançar sobre nós a culpa da morte desse homem!”

29 Mas Pedro e os apóstolos responderam: “Devemos mais obedecer a Deus do que aos homens. 30 O Deus dos nossos antepassados trouxe Jesus de novo à vida após o terem matado, pendurando-o numa cruz. 31 Depois, com enorme poder, Deus glorificou-o, dando-lhe o lugar à sua direita, como Príncipe e Salvador, para que o povo de Israel tivesse uma oportunidade de arrependimento e de perdão para os seus pecados. 32 Somos testemunhas destas coisas como também o Espírito Santo dado por Deus a todos quantos lhe obedecem.”

33 Ao ouvir estas palavras, o conselho ficou encolerizado e resolveu matá-los. 34 Mas um dos membros, um fariseu chamado Gamaliel, professor da Lei e muito popular entre o povo, levantou-se no conselho e pediu que mandassem os apóstolos sair da sala por um pouco. 35 Disse então: “Homens de Israel, cuidado! Vejam bem o que vão fazer com estas pessoas! 36 Há algum tempo apareceu esse tal Teudas que se julgava alguém importante. Juntaram-se a ele cerca de 400 partidários, mas acabou por ser morto e os que o seguiram foram facilmente dispersos. 37 Depois dele, na altura do recenseamento, apareceu Judas da Galileia, que arrastou atrás de si uma multidão, mas também morreu e os que depositavam fé nele foram igualmente dispersos.

38 Por isso, o meu conselho neste caso é que deixem estes homens em paz e libertem-nos. Se o plano deles e aquilo que fazem é meramente humano, em breve desaparecerão. 39 Mas se for obra de Deus não poderão impedi-los, não vá acontecer estarem a lutar contra o próprio Deus.” O conselho aceitou esta opinião.

40 Chamados os apóstolos, mandaram-nos açoitar e disseram-lhes que nunca mais falassem no nome de Jesus, deixando-os finalmente ir embora.

41 Os apóstolos saíram da sala do conselho contentes por Deus os ter considerado dignos de sofrer desonra pelo seu nome. 42 E todos os dias, no templo e de casa em casa, continuavam a ensinar e a pregar que Jesus era o Cristo.

A escolha dos sete diáconos

Com os discípulos a aumentar tão rapidamente em número, havia no seu meio murmúrios de descontentamento. Os que só falavam grego queixavam-se de que as suas viúvas eram postas à margem e de que não lhes davam tanta comida na distribuição diária como às viúvas que falavam hebraico.

Então os doze combinaram uma reunião com a assembleia dos discípulos: “Nós, os apóstolos, devíamos gastar o nosso tempo a pregar e não a distribuir comida”, disseram. “Por isso, irmãos, escolham entre vós mesmos sete homens de quem haja um bom testemunho, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, e encarregá-los-emos deste importante trabalho. Só assim poderemos dedicar tempo à oração, pregação e ensino.”

Isto pareceu razoável a toda a assembleia que escolheu as seguintes pessoas: Estêvão, homem de fé extraordinária e cheio do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Parmenas e Nicolau de Antioquia, um gentio que se convertera à fé judaica, e mais tarde ao cristianismo. Estes sete foram apresentados aos apóstolos, que oraram por eles e os abençoaram, pondo sobre eles as mãos.

A palavra de Deus era pregada a um auditório cada vez maior e o número dos discípulos aumentava enormemente em Jerusalém, tendo-se convertido à fé também muitos sacerdotes.

Estêvão, cheio da graça e do poder de Deus, realizava grandes maravilhas e sinais entre o povo. Um dia, alguns homens da chamada Sinagoga dos Homens Livres, começaram a discutir com Estêvão. Eram judeus de Cirene, de Alexandria, no Egito, das províncias da Cilícia e da província da Ásia. 10 Mas nenhum deles podia resistir à sabedoria e ao Espírito pelo qual Estêvão falava.

11 Então arranjaram falsas testemunhas para declararem: “Ouvimo-lo proferir blasfémias contra Moisés e o próprio Deus.” 12 Esta acusação provocou a fúria da multidão, dos anciãos do povo e dos especialistas na Lei contra Estêvão, que o prenderam e levaram perante o conselho. 13 As testemunhas falsas tornaram a afirmar: “Este homem não cessa de falar constantemente contra este santo lugar e contra a Lei. 14 Ouvimo-lo mesmo dizer que esse tal Jesus de Nazaré há de destruir o templo e abolir os costumes que nos foram transmitidos por Moisés.” 15 Naquele momento, todos os que estavam na sala do conselho viram o rosto de Estêvão ficar como o de um anjo.

O discurso de Estêvão perante o conselho

Então o sumo sacerdote perguntou-lhe: “São verdadeiras estas acusações?”

E Estêvão respondeu: “Irmãos e líderes, ouçam: O Deus glorioso apareceu ao nosso antepassado Abraão, na Mesopotâmia, antes de vir viver para Harã. Disse-lhe: ‘Deixa a tua terra e a tua família, e vai para a terra que te vou mostrar.’[h] Saiu, pois, da terra dos caldeus e viveu em Harã até seu pai morrer. Dali, Deus trouxe-o para a terra onde habitam hoje, mas não lhe deu bens, nem um só palmo de terra que fosse. Todavia, Deus tinha prometido que todo o país lhe viria a pertencer, a si e aos seus descendentes, embora naquela altura não tivesse ainda um filho. Disse-lhe Deus também que os seus descendentes virão a ser oprimidos e explorados como escravos numa terra estrangeira durante 400 anos. ‘Mas eu castigarei a nação que os vai escravizar’, disse Deus, ‘e depois eles acabarão por sair livres e adorar-me-ão aqui mesmo!’[i] Deus estabeleceu também com Abraão, naquela altura, a aliança da circuncisão. E assim, Isaque, filho de Abraão, foi circuncidado com oito dias de idade. Isaque viria a ser o pai de Jacob, e Jacob, por seu turno, o pai dos doze patriarcas fundadores da nação judaica.

Estes homens tinham muita inveja do seu irmão José e venderam-no para que fosse escravo no Egito. Mas Deus estava com ele 10 e libertou-o de todas as suas aflições, fazendo com que o rei do Egito, o Faraó, ganhasse simpatia por ele. Deus dotou também José duma sabedoria invulgar, pelo que o Faraó o nomeou governador de todo o Egito, além de o encarregar de todos os assuntos do palácio.

11 Houve uma fome no Egito e em Canaã. A aflição era grande, de forma que os nossos antepassados não encontravam alimentos. 12 Jacob, ouvindo dizer que ainda havia cereais no Egito, mandou seus filhos irem ali comprá-los. 13 Da segunda vez que isso aconteceu, José revelou aos irmãos quem realmente era e apresentou-os ao Faraó. 14 Mandou então chamar para o Egito o seu pai, Jacob, e as famílias dos irmãos, setenta e cinco pessoas ao todo. 15 Assim, Jacob foi para o Egito, onde ele e todos os nossos antepassados morreram, 16 sendo levados para Siquem e sepultados no túmulo que Abraão adquirira aos filhos de Hamor, pai de Siquem.

17 Ao aproximar-se o tempo em que Deus iria cumprir a promessa feita a Abraão de libertar os seus descendentes da escravatura, o povo judaico tinha-se já multiplicado grandemente no Egito. 18 Até que apareceu um outro rei, que não conhecia José.[j] 19 Este rei oprimiu o nosso povo, obrigando os nossos antepassados a abandonar os seus recém-nascidos para que não sobrevivessem.

20 Por essa altura, nasceu Moisés que era uma criança formosa aos olhos de Deus. Seus pais esconderam-no em casa durante três meses. 21 Quando por fim já não podiam tê-lo escondido mais tempo, e se viram forçados a abandoná-lo, a filha do Faraó encontrou-o e adotou-o como seu próprio filho. 22 Moisés foi ensinado em toda a sabedoria dos egípcios e tornou-se poderoso nas palavras e nas obras.

23 Certo dia, estando quase a fazer quarenta anos, pretendeu visitar os seus irmãos, o povo de Israel. 24 Durante esta visita, vendo que um egípcio maltratava um israelita, matou o egípcio. 25 Supunha ele que os seus irmãos de raça compreenderiam que Deus o enviara para os salvar. Mas não, eles não compreenderam.

26 No dia seguinte tornou a visitá-los e viu dois israelitas que lutavam um com o outro. Procurou reconciliá-los, dizendo-lhes: ‘Acabem com isso! Vocês são irmãos e não devem lutar assim!’

27 Mas o homem que estava a tratar mal o colega afastou Moisés. ‘Quem te nomeou chefe e juiz sobre nós?’, perguntou. 28 ‘Queres matar-me como mataste ontem aquele egípcio?’[k] 29 Ao ouvir isto, Moisés fugiu do país, passando a viver na terra de Midiã, onde nasceram os seus dois filhos.

30 Quarenta anos mais tarde, no deserto perto do monte Sinai, apareceu-lhe um anjo numa chama de fogo dentro de uma sarça. 31 Moisés, vendo aquilo, perguntou a si próprio o que se passaria. E ao aproximar-se ouviu a voz do Senhor: 32 ‘Eu sou o Deus dos teus antepassados; de Abraão, Isaque e Jacob.’[l] Moisés tremia e não se atrevia a olhar.

33 O Senhor disse-lhe: ‘Descalça-te, porque estás em terreno sagrado. 34 Vi a aflição do meu povo no Egito, ouvi os seus gritos e desci para livrá-lo. Vou mandar-te ao Egito.’[m] 35 Foi assim que Deus tornou a enviar o mesmo homem que o seu povo anteriormente rejeitara ao perguntar-lhe: ‘Quem te nomeou chefe e juiz sobre nós?’ Moisés foi enviado por Deus, através do anjo que lhe apareceu na sarça ardente, para ser seu chefe e libertador. 36 E com muitos sinais conduziu-os para fora do Egito, atravessando o mar Vermelho e percorrendo o deserto durante quarenta anos.

37 O próprio Moisés disse ao povo de Israel: ‘Deus levantará entre os vossos irmãos um profeta semelhante a mim.’[n] 38 E com efeito, no deserto, Moisés foi o intermediário entre o povo de Israel e o anjo que lhe falou no monte Sinai; foi ele que recebeu palavras de vida para nós.

39 Mas os nossos pais recusaram-se a obedecer a Moisés, antes o rejeitaram e, no seu coração, voltaram para o Egito. 40 Disseram, pois, a Aarão: ‘Faz-nos ídolos, para que tenhamos deuses que nos guiem, pois não sabemos o que foi feito desse Moisés que nos tirou do Egito.’[o] 41 Fizeram então um bezerro, ao qual ofereceram sacrifícios, muito satisfeitos com a sua ação. 42 Então Deus desviou-se deles, abandonando-os e deixando-os adorar o exército celestial[p]! No livro das profecias de Amós, Deus pergunta:

‘Foi a mim que ofereceste vítimas e sacrifícios
durante quarenta anos no deserto, ó casa de Israel?
43 Não. O que vos interessava
eram os vossos deuses pagãos,
Moloque e a estrela do deus Refã,
e todas as imagens que fizeram para vós mesmos,
para se prostrarem diante delas.
Por isso, vou mandar-vos para o cativeiro,
para muito longe daqui, para além da Babilónia.’[q]

44 Os nossos antepassados traziam consigo um tabernáculo para lhes servir de testemunho no deserto. Ele fora construído tal como lho ordenara aquele que falava por intermédio de Moisés, de acordo com o modelo que este tinha observado. 45 Anos mais tarde, quando Josué chefiava as batalhas contra as nações gentias, levaram o santuário para o seu novo território, utilizando-o até ao tempo do rei David.

46 Deus abençoou este rei grandemente e David pediu-lhe a graça de construir um templo permanente para o Deus de Jacob. 47 Mas foi Salomão quem o construiu. 48 Todavia, o Altíssimo não vive em templos feitos por mãos humanas. Como diz o profeta:

49 ‘O céu é o meu trono,
e a Terra é o estrado dos meus pés.
Que casa me poderiam vocês construir?, diz o Senhor.
Ou que lugar para o meu descanso?
50 Não foi a minha mão que fez todas essas coisas?’[r]

51 Oh, gente obstinada! Vocês são pagãos de coração e surdos à verdade. Irão resistir para sempre ao Espírito Santo? Já os vossos pais o fizeram e vocês também! 52 Indiquem um só profeta que os vossos antepassados não tenham perseguido! Mataram até aqueles que anunciavam a vinda do Justo, o Cristo, a quem vocês agora traíram e assassinaram. 53 Sim, e deliberadamente desobedeceram à Lei de Deus, embora a tenham recebido das mãos dos anjos.”

Estêvão é morto por apedrejamento

54 Ao ouvirem estas palavras, os líderes dos judeus, espicaçados até à fúria pela acusação de Estêvão, rangiam os dentes. 55 Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, pôs os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à sua direita: 56 “Olhem, vejo os céus abertos e o Filho do Homem de pé junto a Deus, à sua direita!”, disse-lhes.

57 Então, tapando os ouvidos com as mãos e abafando-lhe a voz com gritos, atacaram-no. 58 E arrastaram-no para fora da cidade para o apedrejar. As pessoas que serviram como testemunhas tiraram as vestes e deixaram-nas ao cuidado de um jovem chamado Saulo.

59 E quando as pedras caíam já para o matar, Estêvão orava: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito!” 60 E tombou de joelhos, clamando: “Senhor, não os culpes deste pecado!” E dizendo isto morreu.

Saulo concordara com a morte de Estêvão.

A igreja é perseguida e espalhada

Naquele dia, começou uma grande onda de perseguição contra os crentes, onda essa que varreu a igreja em Jerusalém. E todos, exceto os apóstolos, fugiram para a Judeia e Samaria. Alguns homens piedosos, com grande desgosto, foram enterrar Estêvão. Saulo excedia-se andando por toda a parte para destruir a igreja, chegando a entrar em casas particulares, arrastando para fora homens e mulheres e metendo-os na prisão.

Mas os que tinham fugido de Jerusalém pregavam em todo o lado a palavra de Jesus. Filipe, por exemplo, foi para a cidade de Samaria onde falou de Cristo ao povo. As multidões escutavam atentas aquilo que ele dizia por causa dos sinais que fazia. Espíritos impuros foram expulsos de muita gente, soltando grandes gritos, e paralíticos e coxos foram curados. Pelo que era grande a alegria naquela cidade!

Simão, o feiticeiro

Havia ali um homem chamado Simão que era feiticeiro. Gozava de grande influência entre o povo samaritano e gabava-se de ser um grande homem. 10 Toda a gente, desde os que vinham de um estrato social inferior ao de mais elevado, afirmava: “Este homem é o poder de Deus”, a que chamam o “Grande Poder”. 11 E seguia-o, pois durante muito tempo ele tinham-os iludido com as suas artes de feitiçaria. 12 Mas agora esse mesmo povo acreditava antes na mensagem de Filipe, que lhes anunciava Jesus Cristo e o reino de Deus. Como resultado, muitos homens e mulheres foram batizados. 13 O próprio Simão creu e foi batizado, começando a acompanhar Filipe por onde quer que andasse, assistindo com pasmo aos sinais que realizava.

14 Quando os apóstolos em Jerusalém souberam que o povo de Samaria aceitara a mensagem de Deus, mandaram Pedro e João até lá. 15 Estes desceram até lá e começaram a orar pelos novos crentes para que recebessem o Espírito Santo, 16 pois o Espírito não descera ainda sobre nenhum deles; tinham sido batizados apenas em nome do Senhor Jesus. 17 Então Pedro e João puseram as mãos sobre esses crentes e receberam o Espírito Santo.

18 Quando Simão viu isto, que o Espírito Santo era dado quando os apóstolos colocavam as mãos sobre a cabeça das pessoas, ofereceu dinheiro para adquirir esse poder: 19 “Quero tê-lo também para que, quando eu puser as minhas mãos sobre as pessoas, elas recebam o Espírito Santo!”

20 Mas Pedro respondeu: “Que o teu dinheiro morra contigo por pensares que o dom de Deus se pode comprar! 21 Não podes ter parte nisto, porque o teu coração não é reto diante de Deus. 22 Arrepende-te dessa perversidade e ora, talvez Deus ainda perdoe o pensamento do teu coração; 23 pois vejo que tens ira e amargura e estás amarrado pela injustiça.”